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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Crónica sobre xadrez nº 9

Pergunta a 64 Dólares


Durante os anos 50, havia u
m famoso programa de televisão americano em que os participantes, que se diziam ser cuidadosamente avaliados como especialistas mas não profissionais em certos campos, respondiam a perguntas de dificuldade crescente.

Primeiro, havia uma pergunta a $64. Se fosse correctamente respondida, o participante podia abandonar e ficar com o dinheiro, ou continuar para o dobro. As apostas iam dobrando de $64 para $128, $256, $512, $1000, ... até aos $64000. A maioria dos participantes subia bastante na escala. Só uma vez um participante não acertou na primeira pergunta. Foi apresentado um garoto de uns doze anos: o seu assunto era o xadrez, tendo sido anunciado como um prodígio no jogo.

Como habitualmente, o apresentador começou com uma pergunta de $64 relactivamente fácil. «Onde foi inventado o jogo de xadrez?», perguntou. «Na China», respondeu o garoto. «Errado!», disse o apresentador. «A resposta certa era a Índia». É assim que Mohammad Ismail Sloan, paquitanês que reside actualmente nos Estados Unidos, introduziu um seu estudo sobre a origem do xadrez cuja tradução em português se pode encontrar numa página da Internet (http://br.geocities.com/xadrezvirtual/historia).

A sua ideia é precisamente desmistificar esse lugar comum da historiografia do xadrez que diz que o xadrez tem origem na Índia. Começou por procurar a origem dessa ideia e apurou tratar-se de H.J.R. Murray, no seu livro dedicado à história do xadrez, datado de 1913. Pesquisando as fontes indianas referidas por este, Sloan, grande conhecedor dessas línguas tendo cursado estudos de linguística na Universidade de Nova Iorque, descobriu uma série de equívocos. É que Murray não tinha grandes conhecimentos de línguas orientais , tendo-se baseado por isso num outro inglês, Raverty, que publicou num jornal de Bengala, em 1902, uma «história do xadrez e do gamão», também ela cheia de confusões. A segunda ideia feita que pretende desmistificar é a de que o xadrez chinês é um jogo totalmente diferente, sem relação com o xadrez ocidental. Os defensores dessa ideia dizem que o xadrez chinês tem um rio, um canhão, um cavalo que não pula, e que as peças no xadrez chinês têm inscrições em caracteres chineses e são colocadas nos «pontos» em vez de nas casas (como no jogo de go). Ora o xadrez chinês também tem uma torre, um rei, um peão e um bispo, todos eles ocupando as mesmas posições iniciais no tabuleiro e com os mesmos movimentos e os mesmos nomes que no antecessor medieval do xadrez ocidental. A tese de Sloan, baseado num estudo lúdico, literário e linguístico das várias variantes orientais do jogo (para além do chinês, há o xadrez japonês – o «shogi» -, xadrez coreano, xadrez birmanês, xadrez cambodjano, xadrez tailandês, xadrez malaio) é a de que a verdadeira origem do xadrez é a China.

Sabia que o «shogi» é a única variante oriental que também tem dama ? E a dama só foi introduzida no xadrez ocidental no século XV ? Visite esta página e formule a sua opinião sobre esta polémica.

by José Fernando in jornal "O Ribatejo", Maio 1998

analogia com as peças do xadrez: chaturanga, chatrang e xiangqi


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