« Campeão nacional e o melhor xadrezista do «ranking» foram excluídos da selecção pelo presidente da federação
O xadrez é um jogo frio e cerebral mas os xadrezistas nacionais estão com o sangue quente e a viver um autêntico clima de guerra. O Grande Mestre (GM) António Fernandes acusa António Bravo, presidente da Federação Portuguesa de Xadrez (FPX) e simultaneamente seleccionador nacional, de "tráfico de influência" por ter deixado de fora das Olimpíadas os melhores xadrezistas portugueses.
As convocatórias para as Olimpíadas de Xadrez, a disputar de 12 a 25 em Dresden, estão a gerar a maior controvérsia nos meandros da modalidade. Fora da selecção, além de António Fernandes, campeão nacional, 5º do «ranking» e um dos dois GM portugueses (título máximo), ficou ainda Diogo Fernando, Mestre Internacional (MI), vice-campeão absoluto e nº1 do «ranking» português. Em femininos, Bianca Jeremias, 5ª do «ranking», também não foi convocada, apesar de acumular mais pontos do que Armanda Plácido, uma das cinco seleccionadas e vice-presidente da FPX.
Em defesa da sua lista de seleccionados, António Bravo alega que a convocatória foi em Junho - data de inscrição imposta pela organização -, "altura em que António Fernandes figurava em 6º lugar da lista" de «performances» da FPX. "No caso da Bianca e do Diogo , a exclusão deveu-se a não terem disputado até então as 30 partidas previstas no critérios de selecção, diz o líder da FPX, que acumula o cargo de seleccionador "por falta de verbas parta um técnico".
António Fernandes, 46 anos, único português a ganhar uma medalha (Bronze) em Olímpiadas, em 2002, acusa o presidente da FPX, e “autonomeado seleccionador, de manipular a verdade”, observando que “o prazo de inscrições para Dresden foi alargado para 12 de Setembro, prorogação que António Bravo sempre ignorou”.
Esta é também a opinião de Ramiro Lopes, presidente da Associação de Xadrez de Faro (AXF), que censura António Bravo por ter feito malabarismo nas convocatórias, “privilegiando amigos” em detrimento dos melhores. “É uma vergonha. A vice-presidente da Federação devia ter pudor de ir a Dresden e António Bravo devia saber que à mulher de César não basta ser séria”, alerta.
Em protesto contra a exclusão de Bianca e do campeão e vice-campeão nacionais, Ramiro Lopes solicitou uma assembleia-geral, recusada pelo presidente deste órgão. Tanto Fernandes como Lopes sustentam que a primeira data indicada pela organização das Olimpíadas, responsável pelo alojamento dos participantes, visava apenas que as federações indicassem o número de elementos das comitivas, “prova disto é que, até 19 de Setembro, federações como a espanhola substituíram alguns convocados”, referem. Segundo António Fernandes e Ramiro Lopes, a pressa na convocatória “não foi inocente”, ao impedir que o campeonato nacional masculino e feminino, disputado em Julho e Setembro, contasse para a lista de seleccionados.
A Associação de Mestres de Xadrez, liderada por Carlos Santos, sustenta que o processo foi mal conduzido pela FPX e que “a escolha feita revelou-se um erro com preço a pagar na qualidade das selecções”. Portugal, no «ranking» de 150 países, surge a meio do cima do meio da tabela. O Grande Mestre Luís Galego, em mensagem ao colega Fernandes e à FPX, frisou ser “um absurdo tudo o que se está a passar.” »
By Isabel Paulo ipaulo@expresso.pt
Recurso
- António Fernandes já efectuou uma exposição sobre a convocatória para Dresden à Secretaria de Estado da Juventude e Desporto
- Laurentino Dias remeteu a queixa para a o Instituto de Desporto de Portugal, que esta a analisar a questão
- O campeão nacional, se não for às Olimpíadas, vai processar judicialmente da direcção da FPX e o seu presidente, alegando danos morais e desportivos
By Isabel Paulo ipaulo@expresso.pt
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1 comentário:
Venho por por este meio informar a comunidade xadrezista que enviei à jornalista do Expresso, responsável pela notícia saída naquele semanário no passado sábado, uma nota do seguinte teor.
Boa noite Isabel Paulo,
Li com agrado a notícia saída no Expresso, do passado sábado, a qual corresponde à situação actual da modalidade e sintetiza com clareza a forma como foram escolhidos os membros das selecções nacionais às Olimpíadas de Xadrez e, em especial, a forma incorrecta como todo o processo decorreu.
Gostaria no entanto de clarificar o texto da notícia. A expressão «tráfico de influência» deve ser enquadrada, até porque surge entre aspas e transmite a ideia de que eu formulei a acusação tal como vem referida. Ora, não foi minha intenção afirmar a certeza de que o Presidente da FPX exerce «tráfico de influência», muito menos com o sentido jurídico rigoroso que pode estar-lhe associado.
O que afirmei, e mantenho, foi que as irregularidades cometidas e a falta de transparência do processo fazem com que as pessoas se interroguem se, por detrás disto tudo não haverá mais do que mera ausência de bom senso e de incompetência na aplicação dos regulamentos, o que já não seria pouco!
Espero ter contribuído para esclarecer a minha posição sobre este assunto.
Com os melhores cumprimentos,
António Fernandes
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