Antes de mais, um cumprimento especial ao António Curado, que para além do xadrez, também cultiva a filatelia, com preferência para os predadores alados. O seu olho de falcão foi descobrir um selo inglês com a rainha vermelha lado a lado com Alice e outro com os personagens Tweedledum e Tweedledee, correspondendo ao segundo dos onze lances do desafio proposto: pode portanto considerar-se que foi o único que desvendou as chaves do enigma…
Partindo da indicação de que o peão branco dá mate em onze lances (escrevo a 11/11), temos a primeira dificuldade: quem tenha tentado arranjar posições mirabolantes para um mate de peão, não percebe que, de facto, se trata de uma coroação! É Alice que vai «entrar para o Palácio»: a jovem para quem Lewis Carroll tinha inventado o País das Maravilhas, vai atingir a maioridade; a sua «musa» começara por lhe servir de modelo fotográfico em criança; alguns chegaram a ver neste enigma de xadrez um pedido de casamento (Carroll era vinte anos mais velho). Entretanto, os pais de Alice afastam-na do escritor e fotógrafo, deixando-o ainda mais triste e melancólico que seu natural.
Este inextrincável enigma representa a própria vida do autor na sua relação com Alice, reportado ao momento em que esta abandona a adolescência e se prepara para entrar na idade adulta…
Alice, o peão branco que está lado a lado com a Rainha vermelha na posição inicial, vai avançar duas casas (Lewis Carroll substitui o «en passant» pelo muito em voga «caminho de ferro»); note-se que, ao passar por d3, há logo a suspeita de uma primeira ameaça ao Rei vermelho, que está estrategicamente colocado no meio do tabuleiro… (adoptámos o inglês para designar a Rainha, que por cá passámos a tratar por Dama, por influência francesa, decerto, ou então pela simples razão de distinguir rEI de rAINHA nas notações).
Alice, o peão branco que está lado a lado com a Rainha vermelha na posição inicial, vai avançar duas casas (Lewis Carroll substitui o «en passant» pelo muito em voga «caminho de ferro»); note-se que, ao passar por d3, há logo a suspeita de uma primeira ameaça ao Rei vermelho, que está estrategicamente colocado no meio do tabuleiro… (adoptámos o inglês para designar a Rainha, que por cá passámos a tratar por Dama, por influência francesa, decerto, ou então pela simples razão de distinguir rEI de rAINHA nas notações).
... Qh5
d4 (Tweedledum e Tweedledee)
Reparem como a Rainha branca (a mãe de Alice?) vai tentar acompanhar a filha na sua caminhada: a mãe dá a mão à filha, mas é a juventude que conduz, a mãe transforma-se em dócil ovelha. As brancas fazem uma série de lances sem que as vermelhas joguem. Lewis Carroll defender-se-ia, um quarto de século depois da publicação da primeira edição… Mas, se as vermelhas representarem o «sistema», não há problema: como é sabido, o «sistema» não mexe. Complicação suplementar: nesse caso, o Rei vermelho seria uma Rainha (ter duas rainhas não é suficiente para garantir a vitória…).
Qc5
d5
Qf8
d5
Qf8
(perfazendo quatro lances de brancas sem que as vermelhas joguem)
Reparem que a única peça que não existe são os bispos (substituídos pela coroa anglicana? ou mais um elemento de subversão?) Reparem ainda que o movimento da Rainha branca corta todas as casas de retirada ao cavalo vermelho… Para além disso, fica a «olhar» também para o outro cavalo (este jogo de «olhares» é uma constante neste enigma)… Aqui, as possibilidades são imensas: onde está Lewis Carrol? Que peça encarna? Devido ao seu próprio comportamento, só é possível associá-lo a um cavalo… branco ou vermelho? Tanto um como o outro? Que estará o autor a querer dizer com esta jogada? Que dormiu com a mãe de Alice? Que ela o «assediou»?
Quem quiser ver a sequência dos lances, veja o diagrama animado aqui.
Quem quiser saber mais sobre esta história, veja mais (em francês) aqui.
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Quanto a nós, acabamos para a semana...
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