É pá este "cromo" dava-nos jeito para a nossa equipa e não só pela reconhecida categoria no tabuleiro. É que o homem tem uma saudável "Granda" pancada" e isso na Casa do Xadrez é uma boa qualificação para a integração no grupo.
Vejam só esta entrevista ao Jornal Chileno "Las Últimas Notícias" em 2004 e retirada
deste "site" (* A vêr a Defesa Câmara : (1 e4 e5 2 Cf3 De7!?))
O grande-mestre peruano ganhou facilmente a Copa Entel
A incrível história de Granda, o exêntrico gênio do xadrez
O talentoso enxadrista é um tipo simples, que vive da agricultura, ama o futebol de salão e voltou aos tabuleiros, após uma ausência de quatro anos, apenas para saldar algumas dívidas.
Julio Ernesto Granda Zuñiga é uma espécie de lenda no Peru: candidato a prefeito que renunciou antes das eleições, receptor de uma mensagem divina e, principalmente, agricultor, o grande-mestre de xadrez é protagonista de muitas histórias, algumas delas fictícias, mas outras reais, que ele mesmo se encarrega de contar.
Tem 37 anos e ontem laureou-se como campeão da Copa Entel, primeiro torneio dessa categoria organizado em nosso país desde 1987, com incrível facilidade. Mas isso é somente um detalhe em sua vida, que, embora não seja longa em anos, é cheia de contos que parecem impossíveis de acontecer, quase míticos.
“Aprendi a jogar antes de ir ao colégio. Eu tinha 5 anos e vivíamos em Camaná, ao sul do Peru. Foi em 1972, quando, à raiz da expectativa gerada pelo match entre Bobby Fischer e Boris Spassky (Campeonato Mundial em Reykjavik, 1972), meu pai lembrou-se de que sabia jogar xadrez e nos ensinou, a mim e aos meus irmãos homens. Eu era o caçula e joguei com meus irmãos até que eu comecei a lhes vencer. Depois, ele se sentiram humilhados por isso e pararam de jogar” – ele conta, recordando-se dos campos e ruas dessa antiga cidade colonial próxima de Arequipa.
Aos 9 anos jogou seu primeiro torneio nacional de adultos, em Lima, e desde então a sua ascensão foi contínua. Chegou a estar na 25ª colocação do ranking mundial, jogou excelentes torneios memoriais na Holanda, New York e Cuba e em 1986 enfrentou a Garry Kasparov, o melhor jogador do mundo. Granda não guarda boas recordações desse encontro:
“Ele me ganhou facilmente, mas a par disso, justificou seu apelido de ogro. Foi bastante mal-educado, não me dirigiu palavra e quando eu movia uma peça, ele fazia gestos depreciativos. Mas ele é provavelmente o jogador mais forte da história” – reconhece com fidalguia o peruano, um dos quatro melhores enxadristas da América Latina.
A vida ensinou a esse homem que de tudo se pode aprender. Por isso, ele resgata lições até de sua fugaz passagem pela política, que o levou a abandonar por uns tempos o xadrez.
“Em 1998 ofereceram-se uma candidatura para prefeito de Camaná, o que me pareceu um disparate. De início, eu a aceitei, mas mais tarde eu renunciei dela antes das eleições. Não era o que eu queria. A política é uma farsa: era um movimento independente, mas manejado por gente de Fujimori” – recorda Granda, um tipo simples, que ama o futebol de salão mais do que o xadrez e não sabe usar computador.
Sua volta ao xadrez, essa sim, demorou quatro anos, por culpa do episódio mais inexplicável de sua vida: “Eu estava no campo, em Camaná, e subitamente uma noite, sozinho, comecei a caminhar. Subi um monte, encontrei um semi-túnel e comecei a galgá-lo, mas a encosta se desfazia quando eu a tocava, transformando-se em pó. Isso mudou minha vida”.
-- Que relação tem isso com você deixar o xadrez?
-- É que eu tomei isso como um chamado de Deus, deixei o xadrez para acercar-me de Deus. A partir daí, dediquei-me somente a agricultura. Por isso, todo o mundo passou a dizer que eu estava louco, delirando, com problemas mentais”.
O místico retiro de Granda terminou faz alguns meses, quando uma má colheita deixou-o com alguma dívidas. “Incomoda-me muitíssimo ficar devendo. E nesse contexto, propuseram-me jogar o Campeonato Nacional sob certas condições que, de alguma maneira, aliviavam a minha situação econômica. Ganhei esse torneio e então continuei jogando, mas eu não voltei a me dedicar somente ao xadrez. Eu sou um homem do campo e necessito estar em Camaná, com o meu campo e com a minha família”.
-- Não lhe voltou o gosto pela competição?
-- Na realidade, sempre gostei de jogar, por que para mim é algo natural e muito cômodo. Eu nem sequer preparo as partidas que vou jogar, escolho o que vou jogar na hora.
-- Assim como em muitos esportes, a paixão move aqueles que o praticam: que satisfação lhe dá o xadrez?
-- O xadrez é um jogo que não te dá muitas satisfações, por que quando ganhas, não provas de nenhuma alegria especial; e quando perdes, é como morrer um pouco, porquanto estás reconhecendo que o teu adversário pensa melhor do que tu. Praticamente não há o azar: tudo é muito intelectual, frio, sem paixão.
(Rodrigo Orellana – Las Últimas Noticias, 29 de março de 2004)
Sem comentários:
Enviar um comentário