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domingo, 29 de junho de 2008

Crónicas sobre xadrez - número 6

Casablanca

Não confundir com o famoso jogador de xadrez Capablanca. Vamos falar do célebre e já clássico filme que marcou a história do cinema: o espanhol Juan Maria Solare publicou na revista Jaque, há cerca de um ano, um interessante artigo sobre a relação deste filme com o xadrez. A actor principal, Humphrey Bogart, surge por várias vezes face a um tabuleiro de xadrez, jogando ou analisando certas posições. O xadrez era o passatempo preferido durante as filmagens do filme, realizado por Michael Curtiz em 1943, sendo Humphrey Bogart, Claude Rains e Paul Henreid seus assíduos e entusiastas praticantes. Bogart teria inclusive sobrevivido durante a Grande Depressão dos anos 30 jogando partidas a dinheiro. Logo numa das primeiras cenas, quando Ugarte vai ao Café Américain falar com Rick, lá está o jogo. Parece que foi o próprio Bogart a sugerir a sua inclusão, inspirando-se nesta cena o cartaz publicitário do filme destinado a França. Citado por Solane, Frank Miller, em Casablanca as time goes by... afirma que « no rascunho do guião de Casablanca, estava previsto que Rick e Renault jogassem xadrez enquanto o avião de Victor e Ilsa descolava ». Defende o autor que o xadrez cumpre uma subtil função semântica neste filme, argumentando que, numa obra de arte qualquer detalhe é potencialmente significativo. Se analisarmos a posição na cena inicial do Café, Rick está sozinho frente ao tabuleiro, pensando. Deve ser uma posição delicada, já que ninguém dedicaria muito tempo a uma jogada simples. O simples facto de Ruck se encontrar sentado do lado das pretas, é em si significativo, já que por convenção se analisa do lado das brancas (convenção que reflectem os diagramas das publicações dedicadas ao xadrez). Trata-se de uma «Defesa Francesa», o que não é decerto inocente. São fundamentalmente as pretas as responsáveis pelo aparecimento desta posição, e é sabido que esta é muito difícil de forçar para as brancas. Juan Maria Solare lamenta uma ligeira imprecisão que impede a reconstrução da ordem exacta dos lances (não se sabe como desapareceram os dois bispos de rei), mas não se deixa afectar na sua tese: na posição em causa, as pretas estão submetidas a uma forte pressão e falta de espaço, se bem que dê a impressão que talvez se consigam soltar. É aqui que se começa a delinear a ambígua personalidade de Rick: segundo Solare, o facto de aparecer analisando a posição e não jogando; e de estar sentado do lado do defensor (as pretas), são elementos chaves que permitem decifrar as intenções autênticas e inconfessas de Rick. Para além disso, comparando-se o campo de batalha da Segunda Guerra Mundial com a posição do tabuleiro, poderíamos dizer que a estrutura de peões pretos (c5, d5, e6, f7, g7, h7) representa a linha Maginot, representando o cavalo branco em b5 a ideia da guerra de movimento. No filme, Bogart analisa a posição e toma a difícil decisão de fazer o roque, sacrificando para sobreviver na partida e vir depois a estabelecer uma resistência francesa: como na guerra.

by José Fernando in jornal "O Ribatejo", Abril 1998

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