Ou vai ou racha, entre um KO e um xeque-mate...
Onze assaltos, divididos por seis de xadrez (quatro minutos cada) e cinco de boxe (três cada). Ganha quem? Um alemão
Primeiro
o filme, só depois o desporto. O chess boxing (boxe-xadrez) nasce nas
salas de cinema em 1979, através do "The Mystery of Chess Boxing" de
Joseph Kuo (Taiwan), e é transportado para os ringues no início deste
século, em 2003, numa iniciativa promovida pelo artista holandês Iepe
"The Joker" Rubingh.
Nesse parêntesis, há quem se sinta ligado ao desporto, alugue um
estúdio em Londres e comece a dar aulas. Esse alguém tem um nome (James
Robinson) e é um pugilista amador com gosto pela matéria. O problema é
que não há dinheiro para fazer evoluir a modalidade e o chess boxing
como que adormece. De repente, assim do pé para a mão, lá surge o chess
boxing de forma oficial, com federação e combates por todo o mundo: Los
Angeles, Tóquio, Amesterdão, Reykjavik, Nantes, Calcutá e Moscovo.
É verdade, "estamos" a Moscovo, onde se realiza o Mundial do chess
boxing. Mas como é que joga isso? Fácil: onze assaltos, divididos por
seis de xadrez (quatro minutos cada) e cinco de boxe (três cada). Ganha
quem fizer xeque-mate ou atirar o outro ao chão por dez segundos.
Posto isto, é fundamental o equilíbrio entre as habilidades intelectuais
e físicas.
A final do Mundial deste ano, a tal de Moscovo, reúne o espanhol
Jonatan Rodríguez e o alemão Sven Rooch. O combate é renhido e acaba no
tabuleiro de xadrez, diz o espanhol: "Enganei-me numa jogada e não me
apercebi que ele me comeu uma torre. Foi o princípio do fim."
Numa entrevista ao jornal desportivo As, o pugilista-xadrezista
(haverá uma maneira mais simples de o catalogar?) conta a sua
emocionante história. "Um representante da Federação Internacional veio a
Espanha à procura de interessados. Organizou-se um torneio para
pugilistas amadores e eu, de Leão, lutei contra um espanhol das
Astúrias. Ganhei ao quinto assalto por xeque-mate." É o fim do início.
Jonatan Rodríguez entra então na Federação Internacional como
profissional de chess boxing, com passaporte e tudo, e vai treinar-se no
centro de alto rendimento em Berlim, onde luta e joga com os melhores.
Duas vitórias e um empate permitem-lhe classificar-se para o Mundial de
Moscovo na categoria -75 kg.
É ali que chega à final, derrotado por xeque-mate pelo alemão Rooch.
Chega a Espanha com a medalha de prata, de sabor agridoce. É o segundo
melhor espanhol de sempre no ranking - o primeiro é Rubén Marcos
(campeão nacional) que nem sequer calça as luvas. O seu domínio no
restrito tabuleiro das 64 casas a preto e branco é tão avassaldor que os
rivais são derrotados em três, quatro, cinco jogadas, no máximo.
Ganha-se tempo... e talvez umas dores de cabeça.
Por Rui Miguel Tovar
Jornal i
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