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domingo, 20 de dezembro de 2015

Os peões




Os peões

Coitados dos peões aqui nascidos!...
Quer brancos quer pretos mais não são
Do que carne de troca e para canhão,
Manipulados, enganados, consumidos,
Que julgam, por ingénuos, ter direitos
E brios e coragem e vontades!...
No entanto, a mais pura das verdades
É que são a tripa forra dos eleitos.


Meus senhores, não ouseis acreditar
Que, no campo, agora a justa é justa
Pois tudo se fará à vossa custa
Para à falsa rainha conquistar.
Dir-vos-ão que sois heróicos, bravos,
Que das torres imponentes sois defesa,
E que todos comeis à mesma mesa
Desde o dia em que se hastearam cravos.


Parai... pensai só por um momento...
Dissecai as histórias que vos contam
Percebei as mentiras com que afrontam
A vossa inteligência e pensamento.


Separai trigo do joio, e então sim,
Escolhei onde podeis, em liberdade,
Batalhar por uma rainha de verdade,
Voltar à justa, ao campo ou ao jardim,
Ao cavaleiro e ao bispo pedir meças,
E até a Dama poderosa vir a ser.
Mas para tanto, tereis de compreender
Que o mundo como está, está às avessas.


Recuperai os valores com avidez
Recuperai o timão no tabuleiro
E ante bispo, ou rei, ou cavaleiro
Vencei vós este jogo do xadrez!


Luisa Venturini



in:   Academia de Xadrez Marquês Pombal
 .

1 comentário:

Mónica Serrano disse...

Uma maravilhosa analogia filosófica, não obstante, simultaneamente realista, entre o jogo do xadrez e o jogo da vida.