Santarém, 20-12-2010
Tive sérias dúvidas se deveria ou não escrever este texto...
Confesso que tenho muito pouca paciência para discutir regulamentos, associações, federações, legalismos bacocos, e demais atentados contra a liberdade no xadrez.
Os regulamentos e legislação devem existir para servir uma comunidade e nunca o contrário.
Entendo as diversas organizações como forma de aglutinar TODOS os xadrezistas e não como matéria de divisão.
Confesso ainda que li na diagonal todos os mails que me foram endereçados pelo Rúben Elias, e que a maioria são coincidentes com a minha posição desde o primeiro momento.
Quero esclarecer apenas que me fartei do xadrez de cordel em que a FPX se transformou após a saída do Dr. Luís Costa.
Sobre este presidente, quero esclarecer que admito que tenha cometido inúmeras ilegalidades, que por vezes o tomasse como tendo ideias megalómanas, mas de uma coisa nunca duvidei: o homem gostava de xadrez (à sua maneira) e procurou elevar dentro das suas possibilidades o xadrez a um patamar superior.
Se o conseguiu ou não, não me compete analisar. Haverá certamente pessoas muito mais habilitadas do que eu.
A minha opinião pessoal é que com todas as vicissitudes de forma, esse presidente procurou o que achava melhor para o xadrez, e mais importante, ouviu os xadrezistas e as suas propostas, independentemente do mais absurdas que pareciam ser.
Relembro a discussão que na altura tive com ele, acerca da forma de comunicar os resultados dos encontros dos nacionais por equipas.
Esgrimimos argumentos, eventuais problemas, e no final reconheceu que a minha proposta era a correcta, e ainda hoje está em vigor.
A partir daí, comecei a ver a Direcção da FPX como uma dança de cadeiras ocupadas por autistas que se julgavam estar muito acima dos xadrezistas e dos clubes!
Grupos de interesses, pessoas bem intencionadas que foram “nokauteadas” e abandonaram a modalidade, e muitos bajuladores com interesses directos e que adaptam os regulamentos e as iniciativas, aos seus interesses pessoais/grupais.
Por diversas vezes, e através de diversos meios fiz chegar propostas do que deveria ser a competição em Portugal.
Na maior parte das vezes, o que consegui foi animosidade como se o meu interesse fosse apenas dizer mal.
Disso fui acusado, e de muitas outras coisas, inclusivé de procurar protagonismo...
Só quem não me conhece, e que não faz ideia do meu perfil pessoal o pode dizer.
Mas tudo valeu! De tudo fui acusado, e tudo serviu, inclusivé atacar, e prejudicar um clube que tenta sobreviver sem qualquer apoio estatal ou privado.
Mas passemos ao que interessa que a introdução já vai longa...
Há 3 ou 4 anos fui provavelmente a primeira e única pessoa a insurgir-me contra um regulamento feito em cima do joelho e que nada tinha a ver com os legítimos interesses da maioria dos xadrezistas ou dos clubes.
Procurei numa 1ª abordagem chamar os responsáveis à razão de uma forma divertida e que não melindrasse ninguém.
O humor é talvez a única forma que conheço do fazer...
Fiquei a falar sózinho e nessa altura nem reacções negativas sofri. Simplesmente fui ignorado!
Depois, passei a demonstrar a forma como o famigerado artigo 36º foi aprovado (à boa forma partidária) , quais os votos a favor, quais os votos contra (Zero!!!) e os votos “nim”.
Aí, já a coisa piou mais fino!
A “golpada” foi desmascarada e alguns já saltaram da toca. Os interesses tinham sido postos em causa! Os responsáveis nunca deram a cara e mandaram os seus lacaios como tropa de choque.
A FPX em nome “dos jovens” passou a alimentar uma série de pessoas e os resultados financeiros e competitivos estão à vista!
Muito haveria a dizer sobre a relação custo/benefício,mas isso ficará para outros...
Relembro apenas que foi proposto um modelo de competição que não só resolveria a actual situação de polémica em que ninguém se entende, como, no futuro seria um modelo adaptado à situação portuguesa.
Faço só notar que o modelo “futeboleiro”, com 3 divisões e distritais só deveria ser aplicado com centenas/milhares de equipas.
Num panorama como o nosso, a pirâmide não se justifica.
Não temos equipas suficientes e com qualidade que alimentem o modelo.
Mas, acredito que a situação ainda irá piorar.
A partir de agora, além da claúsula polémica, vamos ter mais torpedos para afundar o xadrez!
Com a exigência de que todos os clubes apresentem estatutos e publicações em Diário da República, vamos assistir a que mais umas dezenas de clubes com situação irregular desapareçam da competição.
É o custo da subsidio-dependência deste Estado irracional.
Para concluir, quero apenas dizer-vos que escusam de me responder, ou de procurar envolver-me em qualquer tipo de polémica.
Para esse “peditório” já dei! Não quero protagonismo, nem pretendo continuar a ser um “Quixote do xadrez”.
Espero apenas que reflictam, que pensem no interesse de toda uma comunidade: xadrezistas semi-profissionais, amadores, clubes semi-profissionais e clubes totalmente amadores.
Este nobre jogo, ou desporto, merece que não o deixem morrer. O xadrez está muito acima de FPX’s, IDP’s, APMX’s e outras siglas que pouco me dizem.
Eu, retiro-me, e esta será provavelmente a última vez que ouvirão falar num tipo chamado António Russo, que era federado, que sempre gostou muito de xadrez, mas que se fartou de todo o cenário dantesco que o envolvia.
Deixo de ser federado, e por isso não tenho o direito de opinar sobre os meandros federativos.
A todos os que verdadeiramente gostam de xadrez, e que sei que são muitos, aqui vai o meu abraço.
António Russo