
Mr. Barriga, como sabe sou desde há 40 anos um grande aficionado da  modalidade dos cavalos e rainhas. Posso mesmo afirmar em voz alta e ao  pé seja de quem for que sou a pessoa que em Portugal maior dedicação  (estou a falar de dedicação financeiramente desinteressada,  naturalmente) em  todos os aspectos tenho dispensado à modalidade.  Fundação de Núcleos, Organização de Torneios de âmbito nacional,  divulgando a modalidade por todos os meios comunicacionais  e  participando eu próprio em todas as provas que se realizem num raio  de 50 kilómetros à volta da minha residência em Lisboa. 
Acontece Mr. Barriga que em qualquer modalidade desportiva e  portanto também nesta de Xadrez que eu próprio pratico, eu vejo cada um  dos jogos, vejo a disputa de cada uma partida entre duas pessoas como um  momento de convívio social entre essas duas pessoas. Nesta  conformidade, para mim agora e sempre MAIS IMPORTANTE DO QUE O GANHAR E O  PERDER É O CIVISMO, A EDUCAÇÃO E O DESPORTIVISMO com que a relação de  convívio, o ambiente humano que envolveu a disputa saudável da partida,  seja ela uma partida de Café ou uma partida de competição oficial ou  particular.
Ora há muito tempo que comecei a constatar que no mundo do Xadrez  movimentam-se muitos indivíduos, bastantes pessoas, mais do sexo  masculino, diga-se, que têm um comportamento muito longe do saudável  desportivismo e da educação esperada. As suas falhas dizem respeito não  só ao cumprimento das regras do jogo como à sua postura enquanto decorre  o jogo, com natural desagrado da pessoa com quem está a joga. 
São conhecidas atitudes minhas de repúdio e rotura imediata por  comportamentos manifestamente antidesportivos e desiducados de  algumas pessoas com quem na circunstância estava a jogar.
As atitudes condenáveis (indiscutivelmente condenáveis) registadas com mais frequência em provas de competição são:
    ----- O jogador que tem o seu peão mais avançado na 6ª ou mesmo ainda 5ª linha pegar na Dama manifestamente com a intenção enervar o oponente e levá-lo a fazer lances precipitados. Absolutamente abominável!
           É evidente que o comportamento é antidesportivo e condenável porque é óbvio que a razão por que o jogador faz aquilo é exactamente a razão por que não deve fazê-lo! ... Nem mesmo que o peão já estivesse na 7ª linha....
           Alguém consegue  imaginar o Kasparov a ter semelhante comportamento para com o seu adversário em qualquer match.?
   -----  Quando um jogador deslocando a peça (que  decidiu jogar) até determinada casa, coloca a peça nessa casa, mas não  a larga imediatamente  (como mandam as regras milenares sagradas) e mantém por tempo exagerado a mão agarrada à peça.
           O jogador se não for estúpido perceberá  que com a peça colocada na casa (mas não a largando) isso  permite-lhe analisar da bondade ou da inconveniência do lance sem estar comprometido com ele,  porquanto se o opositor protestar, pode sempre dizer que ainda não largou peça. Como se no Jogo Ciência se pudesse usar destas espertezas saloias.
  -----   Em relação agora a comportamentos de postura a mim sempre me fez muita espécie que em partidas de Torneios de Lentas determinados indivíduos que têm à sua  frente o seu adversário (o seu parceiro... eu diria com mais propriedade  o seu conviva) a pessoa com quem está a jogar a sua partida do calendário e sem que compreenda porquê se levante da cadeira e deixe o seu parceiro a "falar sozinho, isto, é  desacompanhado" um número de vezes absolutamente inacreditável. Um jogo  de xadrez entre duas pessoas é um momento de convívio entre  essas duas pessoas, é um acto social... É absolutamente  desagradável  que num torneio um xadrezista esteja a jogar a  sua partida com o seu emparceirado e se levante da cadeira e abandone o  jogo não se sabe para onde... dez vezes, quinze, vinte...  trinta vezes. Posso compreender que alguém que está a jogar uma partida  de três horas que precise de ir uma vez, mesmo duas vezes à  casa de banho, uma vez, duas vezes, três ou quatro vezes ir espreitar  para um ou outro tabuleiro onde esteja a ser jogada uma  partida de maior interesse...mas voltar as costas ao parceiro dez  vezes... vinte vezes!? 
           Sabe o que é que me apeteceu fazer (e fiz ) hoje mesmo?  Torneio da Primavera no Alekhine, 1ª Sessão, 20h30. Opositor: 
           Alexandre Santos. Estávamos a meio do  jogo (35ª jogada) e ele já se tinha levantado umas 15 vezes. Em surdina  disse para os dois concorrentes do tabuleiro do lado:  " se  ele voltar a levantar-se... da próxima vez quando regressar ao jogo já  não me encontra aqui... e assim fiz...  assim que voltou  costas ao jogo, eu rubriquei o boletim de jogo, e abandonei a sala.  Alguém me há-de contar  depois a cara com que o tipo ficou quando  chegou à conclusão que o seu opositor tinha desaparecido. Não era a  primeira vez que aquele indivíduo tinha aquela postura desagradável. Nunca mais jogarei com aquele indivíduo.
           " Mais importante do que o ganhar e o perder é a convivência saudável e o desportivismo praticado"   e com esta me vou
 
1 comentário:
Genéricamente estou de acordo com o autor deste post, é importante manter uma postura educada e respeitosa perante cada adversário, e é como adversário que deve ser encarado, posto que cada um dos contendores está a tentar vencer o outro. Considerarmos a pessoa que se encontra do outro lado da mesa como adversário em nada deve modificar uma postura civilizada.
Já não estou de acordo, pelo menos em todos os casos, em criticar um jogador que na eminência de uma promoção pega numa dama para ganhar tempo. Eu próprio, em apuros de tempo, já o fiz e nunca tive a intenção de ser desrespeitoso para com o meu adversário.
Pedro Vinagre
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