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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Espuma dos dias – Manuel Martinho






Manuel Martinho Lopes em 2009




 





É uma figura de e em Santarém. Figura repleta de alacridade, contraponto das figuronas cinzentas, nos antípodas dos figurões interesseiros, manhosos e melífluos. Há mais de quarenta anos, depois de chegar à cidade, ouvi no recanto do café Portugal ressoarem formidáveis e escalonadas entonações; eram as gargalhadas do Manel. Abria os braços qual asas de águia em voo picado soltando às garfadas o riso de quem acabava de ganhar demorada partida de xadrez. Recordo o adversário, senhor de rosto severo, de olhar fundo, protegido por óculos de massa. Trabalhava no Governo Civil, jogava em posição Alekine, o Manel qual Capablanca fumava, bebia não mojitos, brandy, rasgava sorrisos, no fim a famosa gargalhada. Tropeçámos um no outro a propósito de livros, leituras, poetas, num repimpado desfile de nomes, por três vezes citei o Doutor Angélico. De chofre crismou-me São Tomás de Aquino para gáudio do ladino Cadima. Fui seu vizinho durante uns meses, fizemos séria amizade, soltei-me da capital do gótico, quando nos vemos repartimos motetos enquanto descreve pormenores pícaros do enfado citadino. Há largos meses encontrei-o no nosso benfeitor Gonçalves Izabelinha, não gostei do visto e observado a corroborar fugaz visão dando a ideia de estar doente. Na semana passada no campo do herói maneta voltámos a cair nos braços de um e do outro, vestia camisa azul bem passada, queixos escanhoados a preceito, olhar levantado, descontada a idade, seria o Manel da época de glabro oficial de cavalaria inventor de especial forma de bater o tacão dos militares do pelotão por ele comandado como um seu camarada me narrou. Falámos de tudo falando de nada, chistes, remoques disparados a esmo, uns aprazíveis minutos de felicidade. Ele deixou passar boas coisas ao alcança do braço dirão os especialistas de bagatelas, podia ter logrado mais vantagens dada a sua aptidão para as contas referirão outros, uma pena ser desprendido atalharão os frades do cinismo envernizado. Talvez tenham um nico de razão, apenas conjecturo a quão longe poderia ter chegado na condição de xadrezista. Ele é a sua circunstância como disse o outro. Nunca irá receber uma medalha de mérito a realçar a sua acção em prol do ensino do xadrez a inúmeros jovens, os zelotas não o permitiriam, mas que a merece, lá isso merece. Admiro-o tal como é, esbracejante a lembrar pássaro louco enamorado, no caso dele montado num cavalo a derrubar torres e prostrar bispos, dando xeque-mate aos mais pintados.

Armando Fernandes


in Jornal O Ribatejo








Link directo aqui, para quem quiser comentar online:   http://www.oribatejo.pt/2014/10/10/espuma-dos-dias-manuel-martinho/

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1 comentário:

Arlindo Rodrigues Vieira disse...

Belo, belissimo texto este.
Um Grande jogador de xadrez, um Hommem do xadrez, tão Homem e diferente de uns quantos anões e da merda emplumada que hoje é apanágio de muito "corrécio" que milita no xadrez , nas suas diversas esferas.
A integridade não é propriamente algo que se compra e se venda, ou que seja dado de bandeja.
O Martinho foi um homem integro do xadrez, tão diferente do lambebotismo ou lambecuzismo que parece estar a brotar num determinado poço do xadrez nacional. Jovens cortesãos...ou menos jovens...digo!