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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Visita à Guiné-Bissau

Selos emitidos pelo Governo Provisório da Junta Militar, em 2001

Esta deveria ser uma crónica sobre xadrez. Quando, há oito anos, visitei a Guiné, na sequência de uma guerra de libertação face a um ocupante estrangeiro, pude encontrar, em chão fula, jogadores da modalidade em plena prática; no entanto, desta vez, não tive a mesma sorte. No entanto, o animador deste blog encomendou mesmo assim (insistentemente, claro) uma «reportagem». Inquirido sobre se não seria melhor continuar a «encher chouriço» (a nossa fórmula de filatelia / xadrez) respondeu que aqui o pessoal tem «fome» dessas particularidades em primeira mão. Sem a qualidade do National Geographic, aqui vai pois a reportagem possível, acompanhada de um pedido de indulgência aos leitores, e da promessa de retomarmos a «verdadeira crónica» para a semana…


Ora bem. Isto vai ser um folheto promocional: é que fiz uma viagem inesquecível, e já que o Miguel me dá a oportunidade de a partilhar aqui, na Casa do Xadrez, vou esforçar-me por «vender» este destino… o Sul da Guiné-Bissau. Julgavam então que os operadores turísticos já tinham descoberto tudo? Pois a Guiné-Bissau não tem nada a ver com aquilo que as televisões nos apresentam: é um país pobre, decerto, em que as infra-estruturas básicas não funcionam, mas de gente pacífica e acolhedora, o destino ideal para quem não queira cair no «Fast Food» turístico: aqui não entraram turistas e tudo é perfeitamente genuíno; a única coisa estranha é a cor da nossa pele (dos esbranquiçados, manifestamente desadaptados à textura local), propícia a assustar as criancinhas…

Vi uma grande alegria nas crianças, independentemente do seu brinquedo... Venham a Bissau e recuperem um pouco da vossa inocência perdida.



















Para ver onde é a Guiné-Bissau



Reunam mais três amigos, para serem quatro; apanhem o avião da TAP para Bissau (há três voos semanais e custa cerca de 700 euros); contactem comigo para terem alguém à vossa espera, para facilitar as «formalidades» do desembarque… evitarão assim a chatice de vos cravarem «sumo» (dinheiro); poderão reservar um apartamento (40 euros / 4 = 10€) no Centro de Formação em Hotelaria de Quelélé (para visitarem Bissau - prever três dias); contratem o Casimiro como motorista para a ida ao Sul (100€ / 4 = 25€; não se esqueçam de incluir no «pacote» uma arca térmica portátil e de prever a saída de noite, para poupar na dormida) e abasteçam-se com 4 barras de gelo (10€ / 4 = 2,5€); 4 caixas de 24 Super Bock XL (em lata ou em garrafa, a cerca de 20€ cada uma); reservem um Bungalow grande no Complexo de Jemberém (40 euros / 4 = 10€)… Peguem em 1000 euros cada um e façam-se à aventura!
Quanto à comida, não sejam esquisitos: em Bissau vão à Santa Rosa Cubana comer dois frangos assados por 10 euros (a dividir por quatro = 2,5€), comer uma bifana no Baiana com uma cerveja (4€), ao Restaurante Libanês (Tawouk no pão por 2€ ou, se preferirem, no prato, com salada, pelo mesmo preço, mais 1€ para uma lata de 33cl de sumo de goiaba), ou deixem-se de preconceitos e vão ao Mercado de Bandim (comer um prato de cuscus com carne por menos de 1€); em Jemberém, no Sul, negoceiem a feitura de um prato delicioso: «Galinha di terra com caldo de mancarra», e comprem peixe delicioso (ventanas, bagri, barbo; bica; ou bicudo – o nosso espadarte) para assar… a menos de 1€ o Kg!







Para ver o percurso efectuado, sobre carta militar portuguesa:











Em Jemberém contratem o Domingos, para vos servir de guia: não se esqueçam de visitar o aquartelamento de guerrilheiros do PAIGC (comandado por Osvaldo Vieira, cuja fama deu o nome ao aeroporto), no meio do mato cerrado, em pleno «tarrafe» (ladeados por braços de mar); aqui os fuzileiros sofreram uma derrota importante, ao tentarem tomar de assalto o aquartelamento pelo lado do rio (foram detectados, sem o saberem, e envolvidos). Encostados ao monumento estão alguns estilhaços grandes de uma bomba de Napalm utilizada pela Força Aérea, granadas e um ferrugento lançador de RPG7 (os cabeçudos). Passem pelo famoso «Corredor de Guiledge», utilizado pelo PAIGC para abastecer toda a sua estrutura a partir da Guiné Conakri, e sintam o «frisson» do que seriam as dificuldades por que passaram os nossos soldados na Guerra Colonial. Em princípio deve sobrar-vos dinheiros para as lembranças, muito em conta; não se esqueçam de levar uma camisa africana ou uns calções chapa-chapa (feitos de recortes, com os restos de tecidos)!
Deixem-me falar-vos de uma iniciativa recente e julgo que sem precedentes, que decorreu precisamente aqui perto de Jemberém, em Guiledge, em Março deste ano, onde se juntaram, à mesma mesa, combatentes de ambos lados, inimigos há 40 anos, mas hoje confraternizando e respeitando-se mutuamente. Que belo exemplo para o mundo. Amílcar Cabral, o mais famoso líder africano, (que esteve a estudar em Portugal, onde passou pela Escola Agrícola de Santarém) sempre disse que a sua luta não era contra o Povo Português, mas sim contra o Regime Colonialista. O facto é que foram bons tanto de um lado como de outro: o soldado português, tenaz e resistente, aguentou quanto pôde uma situação militar insustentável, em cenário adverso e, muitas vezes, sobretudo na parte final do conflito, com material bélico inferior; os guerrilheiros do PAIGC, os únicos que ganharam realmente uma guerra de libertação, em África! A experiência adquirida voltou a revelar-se útil um quarto de século mais tarde, quando foi preciso expulsar um invasor estrangeiro (o Senegal) apoiado pela França. Não deixem de visitar a página do Simpósio de Guiledje http://www.adbissau.org/guiledje/ ou deixem-se impressionar pelo blog Luís Graça & Camaradas da Guiné http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/, com relatos emocionantes, e a verdadeira história (a dos homens) a fazer-se, quatro décadas depois…


Fazendo a ligação com as crónicas anteriores (Alice no País das Maravilhas), deixem-me apresentar-vos Mariazinha em África, escrito por Fernanda de Castro em 1925. Contava então 25 anos aquela que viria a ser mulher de António Ferro e mãe de António Quadros. A jovem vivera a sua infância em África e, decerto, lera Alice: essas influências conjuntas manifestam-se no colorido e fantástico país que Mariazinha, embarcada em Lisboa, vai encontrar na Guiné... essencial, tal como o Tintin no Congo, para quem queira perceber a mentalidade colonial; como a Anita aqui e acolá, veicula o mito do conformismo feminino relativamente ao estereótipo (seja ele sexista ou colon ial)… No entanto, os traços de exotismo e de profunda alegria, mereceram que o livro fosse recentemente reeditado pelo Círculo de Leitores.

















Tal como a Mariazinha, eu, invejoso, também quis andar de piroga, contra as recomendações do guia (águas infestadas de tubarões), peguei num pescador e aluguei uma piroga (quaisquer 2€ são suficientes)… para fazer inveja aos meus amigos cá em Portugal; o desembarque, fi-lo de pé!













Depois fomos cumprimentar um velho combatente do PAIGC residente na zona desde a altura da guerra. Lá assámos o peixe e os caranguejos, que comemos com molho feito de limão e malaguetas, feito no pilão pelo Domingos... de comer e chorar por mais!











Tomei banho com as crianças, e bebi chá verde oferecido pelos pescadores
com eles descobri que faziam chá com um aroma muito parecido com o da cidreira, mas oriundo de uma planta local, com uma «configuração» completamente diferente! Mas que era bom à farta, lá isso era; o Casimiro (que conduziu a cabine dupla que nos transportou) levou uma estaca para tentar plantar em Bissau.






O Bungalow onde ficámos, o «Búfalo»,


eu na piscina com o Casimiro e o Honório e por trás a esplanada onde tomávamos as refeições...







com a macacada a saltar por cima, em plena liberdade, três espécies diferentes de macacos a fazerem um grande algazarra!

Vejam também a crónica da Guiné no meu blog!









Para além da diversidade, deixem-me agora falar-vos de diferenças. A visita é pedagógica, nem que seja para nos darmos conta do grau de dependência em que nos encontramos perante as facilidades que nos concede a civilização. O que cá em Portugal damos por adquirido, coisas simples, como água na torneira e luz nos fios, são, na Guiné, uma miragem. Tive de reaprender o «escuro» e de ir buscar água para me lavar. Excepto alguns enclaves, servidos por geradores particulares, é a escuridão total; em Jemberém,por exemplo, a água canalizada é um luxo que se deve ao depósito alimentado a electro-bomba, o resto da população retira água dos poços… Nesta povoação, existem meia dúzia de televisões (número exacto), se bem que haja um número substancialmente maior de espectadores (mais de 100 por posto, precisam de se afastar uns 15 metros para que todos possam ver). Mas Jemberém tem algo em que é pioneira em África: tem TV Local (chama-se TV Massar, emite duas horas por dia para um raio de 40Km), que trata dos assuntos que mais afligem as populações locais, e dão voz aos mais velhos. Aqui se trava uma batalha pelo desenvolvimento.

A Guiné-Bissau é uma terra abençoada, pela qualidade dos seus filhos e daqueles que por ela se interessam! Estou a pensar em Honório Barreto, filho do chão (indígena) e governador da Guiné da primeira metade do século XIX, nomeado por Sá da Bandeira; Fernanda de Castro, única mulher entre os fundadores da Sociedade Portuguesa de Autores; Amílcar Cabral, o génio africano; Carmelita Pires, actual Ministra da Justiça, a mover um combate sem piedade ao tráfico de droga que ameaça o renome internacional da Guiné-Bissau, tráfico que se instalou ao mais alto nível do Estado; e o Pepito, engenheiro que se formou em Portugal, a quem se devem muitas acções em prol do desenvolvimento da Guiné-Bissau, que tenho a honra de ter por amigo.

Termino com o slogan do PAIGC para esta campanha, que traduzem os meus maiores desejos e votos para a República da Guiné-Bissau, estabilidade e legitimidade, consignadas em «Guiné Na Ranka», ou seja «A Guiné vai arrancar». Esperemos que possam arrancar de mãos livres, sem amarras, sem lastros antigos, no caminho do verdadeiro desenvolvimento, da economia real, com ideias novas, gente séria e sem preconceitos! Mantenhas (cumprimento)

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1 comentário:

Anónimo disse...

O Tzé agora bebe Chá...
Ainda por cima com sabor a cidreira.
No lo creo, pero que las hay, hay . hehehheh !!!