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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Crónicas sobre xadrez - número 7

Da origem do Xadrez à bomba atómica

Em 1972, altura em que se desenterrou no Uzbequistão, um jogo de xadrez que viria depois a ser datado como do século II d.C., muita gente quis ver nisso mais uma infundada reivindicação do prestígio da paternidade do xadrez, desta vez por parte da U.R.S.S.. Ora é sabido que os russos não são perdidos de amores pelos uzbeques, nem por esses povos nómadas e guerreiros da estepe. Será lógico afirmar com toda a segurança que um jogo de guerra como o xadrez nasceu no seio de povos de planície, sedentários e pacíficos, como os chineses ou os indianos ?

Por que não teria o jogo surgido na mente de um desses príncipes das estepes, tal Gengis Cão, cuja única ocupação era a guerra ? Um dos argumentos que se esgrimem contra esta hipótese é o carácter muito prático desses povos e a sua suposta incapacidade de abstração. Isso não invalida a hipótese. A ideia do jogo podia muito bem ter sido esboçada no seu seio, ganhando depois a sua formalização no contacto com povos mais «civilizados». Um possível argumento a favor desta tese é que ainda hoje os povos desta zona são muito férteis em bons jogadores, bastando para exemplo Kasparov. O xadrez podia ter nascido no cruzamento dos caminhos (ainda terrestres) entre a China, a India e a Pérsia.

Falando da India e das rivalidades nesta zona, não podiamos deixar de falar de um assunto da actualidade: estratégia nuclear. Durante muito tempo a estratégia nuclear foi uma coisa muito simples. Só com dois blocos detendo essa capacidade, os cenários resumiam-se a uma matriz de dois por dois, muito bem resumida pela brincadeira de mau gosto dos rapazes da «Fúria de Viver»: os dois opositores lançam-se em carros a toda a velocidade em direcção a uma falésia, o primeiro que desiste ficando conhecido por «Chicken», ou seja, um cagarolas. Por uma matriz de dois por dois entendemos que só há quatro hipóteses, alinhando respectivamente em linha e em coluna as duas opções que cada um pode tomar a cada momento: saltar ou continuar. Primeiro cenário: os dois jogadores podem optar por saltar ao mesmo tempo, não havendo assim num vencedor nem vencido. Segundo e terceiro cenários: um deles salta primeiro, perdendo a face. Quarto cenário: não desistindo nenhum..., a coisa acaba mal.

Desde a Segunda Guerra que o mundo vive nesse precário equilíbrio da dissuasão. Ora o problema é que aumentou o número de jogadores. Em vez de termos apenas uma matriz de dois por dois, as combinações multiplicam-se , aumentando a incerteza desse jogo. Se há aspectos negativos, que se prendem com o stress a que pode dar origem a facto de as pessoas se saberem alvos potenciais de ogivas nucleares (durante a guerra fria houve crises dessas), também há aspectos positivos: o facto é que desde Agosto de 1945 que não há guerra, pelo menos à escala mundial. Quem se atreve a tomar essa responsabilidade ? Possa pois A bomba ser um instrumento de paz nessa região e resumirem-se as guerras à questão da paternidade do xadrez.

by José Fernando in jornal "O Ribatejo", Maio 1998

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